Iniciativa
Alternativa pelo que é próprio
Projeto tem como objetivo gerar emprego e renda, de forma cooperada e autossustentável, para os imigrantes senegaleses presentes no município
Gabriel Huth -
Façamos uma troca: ao invés da repressão com arma de choque e recolhimento de mercadoria, a oportunidade de trabalho. Aprovado no Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Procultura), um projeto pretende a implementação, em Pelotas, cidade mais negra do Estado, de um ateliê de vestuário africano. Batizada de Kanimambo, a iniciativa tem como objetivo gerar emprego e renda, de forma cooperada e autossustentável, para os imigrantes senegaleses presentes no município.
O projeto nasceu em 2015 a partir da constatação de intensa xenofobia e o racismo sofridos por estes em região que teima em reconhecer origens africanas. “Se fala muito que são ilegais, mas isso não é verdade. Foi exigida uma conta bancária com R$ 3 mil mensais para que o visto fosse concedido, foram muitos anos até conseguirem juntar esse total”, afirma o estudante Vinícius Moraes, um dos organizadores. Com experiência de intercâmbio em Moçambique, ele acrescenta que, na África, o comércio informal, principal prática de trabalho dos senegaleses em Pelotas, é bem aceito, não havendo apreensão de mercadoria e repressão policial, hábito constante por aqui.
Dado o contexto, pensou-se em alternativas de manutenção e independência financeira para os imigrantes através da economia criativa, do conceito de cooperativa autossustentável e da valorização à cultura africana. Optou-se pelo vestuário, tradição milenar que representa os tecidos para tal continente. “Entendemos Pelotas como uma cidade com herança africana muito forte e isso às vezes não recebe a visibilidade necessária, embora se reconheça muito mais do que há 20 anos”, argumenta a jornalista Ediane Oliveira, também organizadora.
Com necessidade de recursos para iniciar o projeto, pensou-se na inscrição no Programa Municipal de Apoio a Cultura (Procultura - Pelotas). Junção de ganho cultural com vocação social, veio a aprovação, e com a verba disponibilizada foram comprados equipamentos e tudo será iniciado em setembro através de oficinas que capacitarão os imigrantes na confecção de bolsas, brincos, vestidos, calças e camisetas. O ateliê funcionará em sala cedida pela Associação das Entidades Carnavalescas de Pelotas (Assecap).
Oportunidade
O material produzido será vendido de forma ambulante - agora com licença, pois o produto será caracterizado como artesanato -, no Mercado das Pulgas e na loja de Bathie Fall, o primeiro senegalês a montar estabelecimento comercial na cidade - na rua Lobo da Costa, entre Osório e Andrade Neves. Um dos precursores da imigração do país para a Sul do Brasil, ele vê a proposta com esperança de, enfim, conseguir trabalhar. “Meu amigo foi agredido pela Guarda Municipal. A gente aceita, porque aqui há uma lei. Mas há preconceito conosco. Esse projeto é uma oportunidade para nós porque vai mostrar nossa cultura e nos garantir renda”, comenta. Pelotas chegou a contar com mais de 50 imigrantes senegaleses. Com o cenário de repressão, hoje o número não passa de 20 trabalhando como vendedores e na construção civil.
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